quarta-feira, 30 de junho de 2010

CNBB vai publicar documento de estudo sobre Igreja e Comunicação

A série Estudos da CNBB vai ganhar mais um documento. O Conselho Permanente da CNBB aprovou na quarta-feira, 23, a publicação, nesta coleção (também conhecida como Coleção Verde), de um texto sobre Igreja e comunicação, elaborado pelo Setor de Comunicação Social, da Comissão Episcopal Pastoral para a Educação, Cultura e Comunicação Social da CNBB.
O texto foi apresentado ontem aos bispos pela equipe de redação, coordenada pelo presidente da Comissão, dom Orani João Tempesta, e servirá de base para a elaboração de um diretório de comunicação para a Igreja no Brasil. O assunto poderá entrar na pauta da assembleia da CNBB em 2011.
“Dar à Igreja no Brasil um diretório de comunicação é um sonho acalentado por muitos que me antecederam na Comissão”, disse dom Orani. “Este texto é um trabalho que tem a participação de muitas pessoas e deve ser uma referência no campo das comunicações sociais”, acrescentou.
Segundo o arcebispo, o documento olha para o futuro “procurando ver, não apenas os meios de comunicação, mas todo o processo de comunicação, lançando novos olhares em relação à comunicação”.
O conteúdo do documento foi apresentado pelos membros da equipe de redação, professor da PUC-Minas, jornalista Mozhair Salomão Bruck; pela professora da Faculdade de Comunicação da Paulus, Irmã Joana Puntel Pimentel; pelo professor da USP, Ismar de Oliveira Soares, e pelo diretor geral da Paulus, padre Manoel Quinta.
A publicação de documentos de estudo é prevista no Art. 139 do regimento da CNBB, quando o texto não está “suficientemente maduro para ser documento oficial da CNBB”. Sua publicação destina-se ao conhecimento das comunidades que têm a oportunidade de estudá-la e opinar sobre seu conteúdo. O texto pode, oportunamente, ser apresentado à assembleia da CNBB à qual é reservada sua última versão e aprovação, tornando-se, então, documento oficial da Conferência e sendo publicado na coleção Documentos da CNBB, também conhecida como Coleção Azul.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Carta sem resposta

Um missionário escreve ao New York Times para relatar histórias que não são notícia
O sacerdote salesiano Martín Lasarte, que está há mais de 20 anos em Angola, relata enternecedoras histórias de sacerdotes que entregam as suas vidas até limites inimagináveis, mas...«não são notícia».

O missionário salesiano uruguaio Martín Lasarte, um missionário que vive há mais de 20 anos em Angola, define-se a si mesmo numa carta enviada ao The New York Times como «um simples sacerdote católico» que se sente «feliz e orgulhoso» da sua vocação.

O diário norte-americano, que liderou a campanha contra a Igreja e o Papa por causa dos casos de pedofilia cometidos por alguns clérigos, ainda não respondeu.

Nela, Lasarte explica o trabalho silencioso a favor dos mais desfavorecidos que a maioria dos sacerdotes da Igreja católica fazem nestas paragens, mas que, no entanto, «não é notícia».

A carta

«Causa-me uma grande dor que pessoas que deveriam ser sinais do amor de Deus tenham sido um punhal na vida de inocentes. Não existem palavras que justifique tais actos. Não há dúvida que a Igreja só pode estar do lado dos débeis, dos mais indefesos. Portanto todas as medidas que venham a ser tomadas para a protecção, prevenção da dignidade das crianças serão sempre uma prioridade absoluta», afirma o missionário na sua carta.

Não é notícia...transportar crianças através de campos minados
No entanto, acrescenta o missionário, «é curiosa a excassez de notícias e o desinteresse pelos milhares e milhares de sacerdotes que se consomem pelos milhões de crianças, pelos adolescentes e os mais desfavorecidos nos quatro cantos do mundo».

«Penso que ao vosso meio de informação não lhes interesse que eu próprio tenha transportado através de caminhos minados em 2002 muitas crianças desnutridas desde Cangumbe a Lwena (Angola) pois nem o governo se dispunha a fazê-lo e as ONG não estavam autorizadas; que eu próprio tivesse tido que enterrar dezenas de crianças falecidas entre os deslocados de guerra e retornados; que tenha salvado a vida a milhares de pessoas em Moxico por intermédio do único posto médico em 90.000 quilómetros quadrados, assim como através da distribuição de alimentos e sementes; que tivéssemos dado a oportunidade a mais 110.000 crianças receberem de educação nestes 10 anos...», sublinha.

«Não é do vosso interesse, acrescenta,que, em conjunto com outros sacerdotes, tenhamos ocorrido cerca de 15.000 pessoas nos aquartelamentos da guerrilha, depois da sua rendição, porque não chegavam os alimentos do Governo e da ONU».

A seguir o salesiano relata uma série de acções realizadas por intermédio de outros companheiros, muitas vezes arriscando a própria vida, mas que não recebem nenhuma atenção dos meios de Comunicação.
80 anos e confortando os desesperados... Também não
«Não é notícia que um sacerdote de 75 anos, o padre Roberto, durante noite percorre a cidade de Luanda curando crianças da rua, levando-as para uma casa abrigo, para que se desintoxiquem da gasolina, que alfabetize centenas de presos; que outros sacerdotes, como o padre Stefano, tenha casas para crianças que foram golpeadas, maltratadas e até violadas. Tão pouco é noticia que Frei Maiato com os seus 80 anos passe de casa em casa confortando os enfermos e os desesperados».

60.000 sacerdotes que deixam tudo...não importa.

«Não é noticia que mais de 60.000 dos 400.000 sacerdotes, religiosos tenham deixado a sua terra, a sua família para servir os seus irmãos em leprosarias, hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças acusadas de feiticeiras ou órfãos de pais que faleceram com AIDS, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros que prestam cuidados a seropositivos… ou sobretudo em paróquias e missões dá para motivar as pessoas a viver e amar».

Assassinados... também não

«Não é notícia -diz- que o meu amigo, o padre Marcos Aurélio, para salvar alguns jovens durante a guerra em Angola, transportou-os de Kalulo a Dondo e ao regressar à sua missão tenha sido fuzilado no caminho; que o irmão Francisco, com cinco catequistas, por terem ido ajudar em áreas rurais mais recônditas tenham falecido num acidente de viação; que dezenas de missionários em Angola tenham falecido por falta de socorro sanitário, por causa de uma simples malária; que outros tenham saltado pelo ar, por causa de uma mina, apenas por foram visitar os seus paroquianos. No cemitério de Kalulo estão as sepulturas dos primeiros sacerdotes que chegaram à região... Todos tinham menos de 40 anos».

Mais à frente afirma que para certos meios «não é notícia acompanhar a vida dum sacerdote "normal" no seu dia a dia, nas suas dificuldades e alegrias consumindo sem ruído a sua vida a favor da comunidade que serve».

«A verdade é que não procuramos ser notícia, mas simplesmente levar a Boa Noticia, essa notícia que sem ruído começou na noite de Páscoa. Faz mais ruido uma árvore que cai do que um bosque que cresce», sublinha.

Nem herói nem neurótico...simplesmente um homem

«Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e dos sacerdotes -acrescenta-. O sacerdote não é nem um herói nem um neurótico. É um simples homem, que com a sua humanidade procura seguir Jesus e servir os seus irmãos. Existem misérias, pobrezas e fragilidades como em cada ser humano; e também beleza e bondade como em cada criatura…».
«Insistir de forma obcecada e persecutória num tema perdendo a visão de conjunto cria verdadeiramente caricaturas ofensivas do sacerdócio católico com as quais me sinto ofendido», afirma.
E conclui: «Só lhe peço amigo periodista, que procure a Verdade, o Bem e a Beleza. Isso torna-lo-á nobre na sua profissão».